Em 1962 Salazar tentou censurar arquitectura inspirada na obra de Niemeyer
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Palácio da Alvorada, Niemeyer |
Niemeyer, o famoso arquitecto brasileiro, foi pioneiro no desenho de edifícios com formas curvas, arrojadas e elegantes. Um desses edifícios é o emblemático Palácio da Alvorada em Brasília com a sua famosa arcada exterior composta de pilares curvos.
São inúmeros os projectos que Niemeyer projectou mas o Palácio da Alvorada, em especial, inspirou o desenho do Colégio de Moimenta da Beira em Viseu, nomeadamente a forma dos pilares exteriores. O regime ditatorial de Salazar, que governava o país nessa altura, não deve ter achado "piada" à ousadia do edifício e solicitou que fosse demolido. Para além disso Niemeyer sempre assumiu como sendo do partido comunista, o que também não deve ter ajudado.
No entanto a resistência oferecida por um grupo de estudantes que frequentavam o colégio impediu que tal acontecesse e o edifício permaneceu erguido sem que a PIDE conseguisse deitar abaixo as arcadas. Em 1962 um grupo de estudantes passava no colégio e reparou que pedreiros se preparavam para demolir os famosos arcos da fachada do colégio. A ordem de demolição terá sido dada dos serviços de urbanismo do regime que devem ter achado aquela parte do edifício demasiado arrojado.
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Colégio de Moimenta da Beira |
Obviamente que as semelhanças entre a arcada do Colégio de Moimenta da Beira e o Palácio da Alvorada desenhado por um arquitecto comunista desagradaram às autoridades da PIDE. O objectivo dos serviços de urbanismo do regime era substituir os pilares arqueados por colunas rectangulares mais convencionais. Mas a resistência oferecida pelo grupo de estudantes do colégio foi fundamental, uma vez que depois disso foi tocado o sino a rebate para ajudar mais habitantes da vila a apoiar o protesto. O movimento gerou uma onda de solidariedade e povoações de vilas próximas apoiaram o protesto.
"Os arcos eram uma coisa nossa, diferente. Representavam progresso", foi assim que explicou um dos estudantes que defenderam o edifício. E acrescenta que a "PIDE pensava que os comunistas tinham influenciado a miudagem, mas não. Toda a população estava contra aquela patifaria". No fundo mais não tratou-se de uma obra solicitada por um director do colégio que tinha viajado ao Brasil e que pediu que se desenhasse um edifício inspirado no Palácio da Alvorada de Niemeyer.
Niemeyer chegou a tomar conhecimento da situação e escreveu uma carta onde elogia a arquitectura do edifício e defendeu as causas dos estudantes. As arcadas não chegaram a ser demolidas mas num Verão foi colocado um muro a esconder os arcos, aproveitando a ausência dos alunos de férias. O muro foi retirado depois do Estado comprar o edifício em 1974 e os arcos voltaram a ser visíveis.
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